Moon Sunchee

Era uma vez um sótão pequeno e apertado. O lugar era úmido e quente e constantemente visitado por insetos e roedores, mas também já tinha sido uma fortaleza, um foguete espacial e até mesmo vulcão preste a explodir! De pouco importava se faltavam telhas, dentro dos limites imensuráveis da imaginação da pequena Sunchee aquele sótão poderia ser qualquer lugar.

E foi assim que ela cresceu: sonhadora, curiosa, amável e aberta a novas possibilidades. Apesar de sempre ser vista rodeada de amigos - mesmo não fazendo esforço algum para ser o centro das atenções - o que realmente a preenchia era o amor pelos livros. Os contos de fadas eram histórias perfeitas com curvas dramáticas suaves, pensadas para você ficar com a sensação de que a vida podia sim ser perfeita. Sunchee os odiava. Logo começou a tomar gosto por histórias um pouco mais… digamos… violentas. Adorava ler Lovecraft e seu terror cósmico, amava assistir os clássicos de terror, os filmes de slasher como Halloween de 78, tudo que tinha correlação com o oculto, o sombrio e o mal acabava a interessando um pouquinho.

Sem demora começou a estudar para criar suas próprias histórias e ser reconhecida como uma grande roteirista de cinema! Fez aulas de escrita, atuação, dança e tudo mais que pudesse à aproximar do mundo da sétima arte. Porém, como todo protagonista, Sunchee tinha seus obstáculos, o primeiro era uma família que repudiava completamente sua ambição pela vida artística e de nada à ajudava em sua empreitada. Tanto que a obrigavam a praticar alguns esportes idiotas, como hipismo e ginástica, tudo pelo status social de ter uma filha campeã. Bom, pelo nisso eles não se frustraram, a garota parecia ter certo dom para esse tipo de coisa, acumulando medalhas e pódios mesmo sem uma rotina de treinos árdua ou grande esforço. Sunchee apenas cumpria aquilo como um trabalho necessário para voltar para seu próprio mundo macabro.

Lá se esforçava de verdade, estudava a fundo a filosofia da semiótica, o impacto da sequência de imagens, como o medo era causado, a ligação entre cultura x terror… sua mente flutuava, o sucesso era inevitável. Porém, tal qual Jack Torrance surpreendia Wendy em o Iluminado colocando sua face bisonha na fresta que tinha acabado de abrir na porta, a vida também mostrava ser implacável: "Here's Johnny!" Ninguém queria dar uma chance para uma novata pobre. "Ninguém vai por dinheiro nas merdas que saem da sua cabeça"

Ok. ok.

Esse sonho não era negociável, ele só precisava de um reboot - um bem feito, é claro. O insight veio enquanto comia uma sopa de letrinhas na esperança de alguma palavra se formasse e a encaminhasse milagrosamente, não veio. Mas a televisão ligada passava uma matéria jornalística sobre os caçadores, mais especificamente, o perfil de uma em particular. Bem sucedida, a mulher parecia ter tudo que sempre quis, mas não era isso o que lhe chamava atenção e sim como todo mundo parecia querer a ouvir, ela era como uma estrela de cinema! Por deus, vendiam action figures dela! No mesmo instante Sunchee iniciou sua corrida - e claro colocou seus fones de ouvido para ter a trilha sonora perfeita para esse momento de redenção - e só parou quando descobriu seu rank. Não era exatamente o que ela esperava, S ajudaria muito mais em seu objetivo, mas é claro que o enredo precisava ser respeitado, ninguém gosta de uma história sem obstáculos.