MASCHENNY VIRSATRA

O inicio de Maschenny foi na Suíça, em uma pequena vila que não chegava aos três mil habitantes. Viver em um lugar tão pequeno e sem tanta gente assim foi algo normal, simples e bem tranquilo. A garota cresceu sem problemas, sendo amada por seus pais enquanto estudava e brincava com as outras crianças. A pequena teve a melhor educação que seus pais conseguiam pagar, indo para a escola local e até mesmo recebendo alguns professores particulares. Eles não eram ricos, mas conseguiam bancar tudo isso e ainda viver tranquilamente com o comércio de alimentos que eles tinham, sendo um dos únicos que tinha rela variedade e conseguia abastecer a população inteira da cidade.  

Foi cedo que a garota descobriu seu gosto pela música, se enfiando rápido naquilo enquanto tinha tempo. A voz dela sempre foi boa, nunca teve problemas com isso, mas precisou trabalhar bem ela com a ajuda de alguns professores para controlar melhor algo que os deuses tinham dado a mesma, aprendendo a cantar muito bem para um dia se tornar cantora ou algo parecido. Os instrumentos musicais também acabaram vindo junto, conseguindo pessoas que poderiam a ensinar em suas próprias casas, conhecendo cada uma das opções e aprendendo tudo aquilo que tinha a sua disposição. Por ser um gosto pessoal da filha, sua família não se importou muito em gastar dinheiro com isso, sabendo que a profissão musical daria dinheiro o bastante para ela e pouco importava se não desse também.

E foi só aprendendo que Maschenny notou ter um ouvido muito bom, algo natural que era incrível para músicos e até para outras coisas. Um dom que muitos gostariam de ter e a garota tinha para si, tornando-se tão completa quanto alguém com os objetivos dela poderia ser. Nisso o tempo passou, os estudos continuaram firme e a garota cresceu. O fenômeno dos portais que tinha sido algo incrível para todos, fazendo nascer caçadores por todo o mundo tornou-se algo cruel e horrível para a família Virsatra. A oportunidade de fazer mais dinheiro criou a vontade dos pais da pequena irem ao encontro dos portais, pois havia despertado não fazia muito tempo e precisavam sustentar os custos de todos os estudos da filha, além de terem a oportunidade da diversão dentro das dungeons e aventurar-se no desconhecido. Isso era algo que a filha deles não poderia negar, pois os dois mereciam. Mas foi a pior escolha que eles tinham feito. Ambos com o rank C, fracos e despreparados. Entraram no primeiro portal conhecido nas proximidades da vila junto de muitos outros moradores, criando um grande grupo.

A dungeon era perigosa, mas o maior problema foi a falta de cuidado de todos. Ninguém ali tinha grande conhecimento sobre os portais, acreditando nos oficiais da Suíça sobre o nível de poder e força daquele lugar. Mas este foi um grande erro, pois a força do portal até poderia ser do nível de todos os caçadores, mas a real preocupação ali era a falta de preparo. Ninguém naquela pequena vila tinha lutado contra monstros antes, pois sempre viveram em paz e sem problemas. Foi algo rápido, todos entraram e algumas horas depois somente um saiu, sendo preciso intervenção de caçadores mais poderosos. O único a sair morreu de imediato ao pisar do lado de fora, deixando claro que todos lá dentro provavelmente tinham sofrido o mesmo destino. As autoridades cuidaram de tudo, ajudando as famílias que tinham perdido alguém... Mas para a pequena Maschenny aquilo não tinha sido só uma perda. Seu peito doía mais do que ela conseguia aguentar, ficando reclusa por alguns anos em casa, sem se comunicar com o mundo exterior, quase não comendo ou bebendo algo, dormindo boa parte dos dias.

Os dias dela se clarearam um pouco com a chegada de uma desconhecida na vila. Maschenny passou tanto tempo sem falar com ninguém que achou estranho qualquer pessoa ir até a sua casa após tantos anos. A visita era na realidade um pedido de ajuda, pois todas as hospedagens da cidade estavam ocupadas, sendo época em que os turistas normalmente iam visitar e apreciar a beleza de Lauterbrunnen. A loja da família não tinha sido arrumada em tanto tempo, além disso, existiam muitos quartos que estavam do mesmo jeito de sempre. Mas a Virsatra não era ruim o bastante para negar ajuda, permitindo a permanência da garota asiática. A hospede apresentou-se como Choi Ha-ra, uma Coreana que estava apenas visitando a vila por um mês e precisava de um lugar para ficar durante este tempo. A dona do lugar permitiu isto enquanto ela fizesse os trabalhos domésticos, limpando e arrumando aquela bagunça, sem necessidade de pagar por nada.

Durante aquele 1 mês as duas se conheceram, conversaram muito e acabam se aproximando mais do que Maschenny esperava. Foi durante este tempo que ela acabou vendo a luz novamente naquele mundo escuro após a morte de sua família, se apegando muito à Ha-ra, que se tornou seu único lugar seguro. A relação das duas evoluiu muito até se tornar um relacionamento mais sério, onde Hara convidou Maschenny para morar com ela na Coreia do Sul. Não houve tempo de pensar muito, resolvendo as coisas de última hora e aceitando a proposta simplesmente por não querer ficar tão longe da única pessoa importante em sua vida. A casa ficou para trás, deixando tudo bem guardado e fechado, levando consigo apenas as coisas mais importantes como o dinheiro e as coisas valiosas de seus pais que não poderiam ficar em uma casa vazia.

Maschenny tinha apenas 16 anos quando foi para a Coreia, descobrindo somente lá que havia despertado e poderia tranquilamente viver daquilo se fosse seu desejo. Uma simples anuladora de rank C, algo que a garota inicialmente ficou com medo de fazer, pois não gostaria de fazer o mesmo que tinha acontecido com ela. Hara não poderia ficar sozinha, não seria legal fazer isso com sua namorada. Por isso a jovem musicista permaneceu naquilo que era normal para ela, estudando música e trabalhando com isso quando tinha a oportunidade. As duas viveram felizes, com Maschenny trabalhando fazendo shows em alguns lugares mais tranquilos enquanto Ha-ra trabalhava e estudava para um dia se tornar uma atriz de sucesso. Mas esta felicidade durou pouco, pois o mundo nunca facilitava as coisas para alguém da família Virsatra.

Aos 17 anos, Maschenny recebeu a notícia de que sua namorada, Choi Ha-ra, estava com câncer e não duraria mais do que um ano devido ao tempo que demoraram para descobrir isto. Os planos de se tornar uma atriz acabaram sumindo, restando uma garota com apenas 17 anos deitada em uma cama no hospital regional de Seul, sofrendo e aguardando do dia de sua morte. Maschenny simplesmente não queria aceitar isso, ter se mudado para aquela cidade tinha sido a coisa mais incrível de sua vida, encontrando felicidade novamente, mas agora ela estava em um hospital simplesmente aguardando a morte de sua alma gêmea. Era horrível e o pouco que ela conseguiu fazer foi aprender algo sobre medicina, buscando diminuir os problemas e deixar aquele processo mais suave. Os custos das despesas do hospital eram complicados de aguentar, tendo que gastar todas as economias do último ano para manter Ha-ra bem enquanto dava. Só que isto não era o bastante. Nunca seria. Câncer no nível avançado que estava não tinha jeito de resolver, resultando na morte dela ao fim de tudo, mesmo com todos os esforços feitos pela garota.

Em dois anos Maschenny tinha perdido a pessoa mais importante que apareceu em sua vida após o falecimento de seus pais, ficando sem ninguém novamente. Na primeira vez ela pensou que não retornaria, mas encontrou alguém que a salvou de toda aquela solidão e escuridão que era sua vida. Mas agora não parecia que isso ocorreria. Seu coração parecia não ter mais onde doer, cada vez que pensava em Ha-ra as lágrimas escorriam e ela se escondia debaixo de um cobertor. Maschenny fez 18 anos e novamente isolou-se do mundo, ficando no apartamento que sua alma gêmea havia deixado para ela, vivendo no limite por todo aquele tempo sem encontrar um propósito. 2 anos de reclusão.

Mais alguns anos na escuridão e solidão até voltar para o mundo real. A comida estava acabando, seu corpo já não estava nos melhores dias e ela precisava de dinheiro para se manter. A única coisa que ela pensava em fazer era aceitar o risco e ir até um dos portais, pois talvez lá poderia achar um propósito, quem sabe até se divertir e voltar a viver eventualmente. A morte já não parecia mais grande coisa. Ela tinha conseguido se controlar melhor após perder as três pessoas que eram seu mundo, mantendo-se calma mesmo quando via alguém morrendo ou escutava a notícia da morte de alguém. Controlar-se emocionalmente fora de casa era a única coisa que a manteria como uma pessoa normal. Era a única forma de viver naquela sociedade e talvez conseguir ser alguém na vida, somente assim ela poderia aceitar que ainda fazia diferença no mundo e merecia estar viva, provando-se dentro e fora das dungeons.