E
u soltava minha adaga ao chão, meu punho de tanta dor agora estava dormente, com início de formigação, aqueles olhos penetrantes e sombrios iam até o fundo da minha alma, e com um toque eu simplesmente ficava paralisado de dentro para fora. Horas, dias, meses ou até mesmo anos se passaram naquele momento, meu cérebro havia entrado em um loop temporal onde eu não tinha noção exata do tempo, poucos segundos haviam se passado, mas para mim era uma eternidade.
O que havia acontecido? Sentia minha boca se afogar um pouco em sangue, me fazendo cuspi-lo, e deixar meus lábios um pouco melados com meu próprio sangue. Só depois do ocorrido que eu vim perceber o que tinha acontecido, aquela que deveria ser protegida e escoltada, aquela que parecia ser a mais fraca e a que mais precisava de acolhimento, aquela que era a mais mimada e chata das pessoas ali, aquela que não se ouvia ou sentia… Ah, agora eu entendo por que eu não ouvia seus passos, sim, ela mesmo, a refém que não gosta de ser chamada de refém, havia se explodido em raiva ao ouvir essas palavras, e o que para ela poderia ser apenas um simples aperto no punho, para mim foi um ataque bastante danoso.
“Então ela não é fraca!” Pensei enquanto já estava recobrando um pouco meus sentidos. Seus olhos se fixavam em mim, como em gíria militar para repreensão, eu estava levando uma mijada daquelas, ouvindo as palavras da refém que não gostava de ser chamada disso, e cai entre nós, pelo jeito que ela me atacou e o dano que ela causou, os reféns ali éramos nós.
Minha cara era simplesmente de paisagem, eu não tinha o que contestar para aquela garota, as ordens da missão era clara, não aborrecer a “refém”, e mesmo eu seguindo o regulamento que a mim foi passado, parecia que eu havia aborrecido a mesma, e isso era mau, bastante mau.
“Qualé dessas missões! Ela me atacou mesmo eu tentando defender ela? Só pode ser dodói da cabeça, minha mão está dormente até agora.” Pensei logo enquanto ouvia a última repreensão da garota.
Com parte do braço direito ainda em movimento, limpava o sangue que estava em meus lábios com meu antebraço, agachando um pouco eu pegava minha adaga, que estava no chão, com a mão esquerda e a guardava, e com um rosto de decepção eu olhava para o céu, tentava entender onde eu havia errado, qual regulamento eu havia descumprido, e mesmo assim via que não havia errado nenhum.
“Acho que teria que tomar medidas extremas para essa missão!” Pensei enquanto voltava minha cabeça ao horizonte e assim desativava a aura do meu broche, desativando aquele terno de gala ao qual eu estava usando.
Com uma bermuda preta, camisa de botão semi aberta e de manga curta, sapatos pretos e um icônico chapéu de cowboy, eu mostrava meu verdadeiro eu. Aos poucos eu fechava e abria o punho machucado, não estavam 100%, porém eu já começava a movimentá-los. Enquanto isso a garota seguia para o carro exigindo pressa, e foi aí nesse momento que eu vi a merda que havia acontecido. Me machucar, me bater, até mesmo me esculhambar, estava ok, eu não ligaria para isso, quantas vezes eu havia sofrido isso na academia de Bombeiros, esse procedimento escroto não me era novidade, mesmo eu perdendo sangue, isso em si não era novo, mas ao olhar para o carro e ver o manobrista tento um possível ataque epilético, meus instintos de socorro afloraram.
Rapidamente eu corria em direção ao manobrista, aquele que antes eu havia suspeitado, agora eu tentava ajudá-lo de alguma forma, eu não entendia a causa, mas o mesmo parecia estar tendo princípio de um ataque epilético, e quando eu menos percebi já estava próximo do mesmo. Com meu punho direito ainda machucado eu não media esforços para usá-lo, caso me machucasse mais ou apenas não conseguisse ter uma coordenação motora para o mesmo, eu me esforçaria para pôr o corpo daquele manobrista de lado, assim fazendo a espuma que estava em sua boca cair e não engasga-lo.
~ Alguém chame uma ambulância RAPIDO! ~ Gritaria próximo ao homem, devido a minha época de caserna, eu entendia um pouco sobre os primeiros socorros em si, como bombeiro era, eu não conseguia deixar aquela situação passar, e mesmo que a menina monstro houvesse exigido que fossemos rápido, eu quebrava aquela ordem acolhendo o rapaz.
“Que gentileza é essa que ela fala, a pressão da mana dela quase matou o rapaz e nem ao menos ela olhou para ele!” Com um semblante um pouco indignado, esperaria por ajuda.
Caso a ajuda vinhesse, sendo por alguma ambulância ou pessoas próximas, eu deixaria aquele rapaz com eles, pois, mesmo diante daquela atitude rebelde, eu ainda tinha uma missão a concluir.
~ Cuidem dele, ele estava tendo um ataque epilético. ~ Mesmo tendo alguns fundamentos de primeiros socorros no passado, eu era um leigo quando se tratava de medicina, dizer que ele estava tendo um ataque epilético era apenas pelo meu achismo e sem nenhum estudo por trás, assim deixando os que forem acolher o rapaz descobrirem o que realmente aconteceu.
Levantando, eu bati um pouco minhas roupas, limpando-as eu seguia em direção ao carro.
~ É Vasco né, não vai dar para eu ir dirigindo, meu punho ainda não está bem! Pode conduzir o carro em si... ~ Diria para o novato em si, logo após perceber que aquele monstro estava no banco de trás do carro com sua mala, ainda pensei em perguntar se ela queria que colocassem a mala na traseira do carro, mas não seria uma boa ideia em si.
~ Vasco, fica sem blaser, vamos tentar ser o mais discretos possíveis, o que você acha? ~ Já mudaria minha forma de conversa para o outro agente, mesmo eu estando certo em tudo que já havia feito ali, eu entendia que para a missão ser concluída, eu teria que mudar um pouco o curso da coisa, e com roupas civis eu entrava no carro sentando no banco da frente de passageiros.
Fechando e abrindo o punho, eu sentia um formigar do mesmo aumentar, isso demonstrava que os nervos estavam voltando ao seu estado normal, mesmo isso sendo bastante dolorido. Respirava fundo, fazia o oxigênio percorrer todo meu cérebro e assim friamente tentaria um diálogo com aquele mini-demônio que antes havia me atacado.
~ Me desculpe pelo incidente de passado, estamos lhe levando direto para a KHA, mas antes eu queria lhe perguntar, você quer ir a algum outro lugar antes de nossa parada final? ~ Colocava minha mão esquerda por trás do banco do motorista, em seguida virava meu corpo um pouco posicionando meu rosto em direção aos olhos daquela garota, um sorriso forçado surgia, e mesmo que fosse quase impossível, eu tentava não mostrar que estava agindo de maneira forçada.
Tentava eu ser mais liberal quanto aquela missão, a tensão que antes tinha de que tínhamos que proteger aquela garota por ela ser frágil, já não existia, assim dando-me a liberdade de ficar mais tranquilo sobre aquela escolta em si. Apertando meu cinto de segurança eu esperava a reação da garota até Vasco dar partida no carro.