A cidade estava coberta por neve, os flocos de gelo estavam a cair na maior parte do dia em toda aquela semana e aquilo gerava um clima frio, típico do natal, que estava prestes a chegar em Seul, quase todas pessoas estavam animadas ignorando toda aquela friagem, afinal estava muito bem equipados com roupas pesadas e quentes, que resolveriam aquele problema. Era uma época ótima e o espírito natalino invadia casas, prédios, condomínios, contagiando grande parte de seus integrantes, deixando ao ar uma ótima energia.
Infelizmente, nem tudo eram rosas pra todos. Ronan costumava adorar tudo aquilo e sempre passava um tempo junto à família, a qual sempre se reunia toda para fazer uma grande ceia, sendo isso outro motivo pelo qual sentia falta, afinal a comida era deliciosa e era uma noite ainda mais farta para as pessoas que compartilhavam de seu sangue e sobrenome.
Era possível ver o rapaz na janela de seu apartamento, observando as pessoas passando felizes pelas ruas em meio a tanta neve e aquilo lhe ajudava um pouco a aquecer seu coração que se sentia frio naquele momento, sua vontade de ver seus pais entrava fortemente em seus pensamentos, mas havia fugido há tão pouco e mesmo que fosse bem vindo em casa, perderia as chances de conseguir viver aquilo que sempre sonhou, sendo forçado a viver aquilo que sempre odiou.
Conforme o tempo passava, o céu escurecia e agora Ronan percebia que era hora de sair de sua janela, afinal as pessoas já se encontravam na casa de suas famílias e não havia mais nada o que ver ali a não ser os flocos caindo sem parar, o que acabava por deixa-lo ainda mais chateado, a neve caindo lentamente e deixando a temperatura ainda mais baixa fazia o coitado se sentir gelado, sozinho e triste.
Levantou-se rapidamente, foi à cozinha e pegou algo para comer e beber, quando percebeu que não se tratava do lugar onde estava, ou se via a neve cair ou não, percebia que teria que manter sua mente ocupada caso não quisesse passar a noite deprimido, o que claramente o motivava a fazer algo que não fazia com frequência, caminhar às 20:00 da noite e ainda por cima sob cristais de gelo que caíam cada vez mais intensamente, podendo se tornar numa falta de sorte do garoto, até mesmo em uma nevasca.
Colocava uma roupa mais quente, tomava uma xícara de café e após uma profunda respiração, descia pra fora, onde se dirigiria até a rua e observando um pouco o local, decidia seguir para a esquerda, dando passos rápido com o intuito de chegar em um lugar mais movimentado, menos sombrio e solitário, passando assim por inúmeras casas pelas quais era possível enxergar famílias ceando unidas, animadas e sorridentes. Bem, ele continuava um pouco cabisbaixo, mas achara uma forma melhor de lidar com tudo aquilo, se sentir feliz pela felicidade dos outros seria algo bem mais lucrativo que ficar ainda mais chateado toda vez que visse familiares comemorando.
Quando chegava em uma praça, conseguiria presenciar ainda mais humanidade, vendo um grande movimento, onde algumas pessoas estavam junto de suas famílias, alguns junto de seus amigos e outros sozinhos, sendo eles alguns em chamadas pelo celular e outros sem fazer contato com ninguém, seja pessoal ou virtualmente, assim como ele mesmo.
-É, parece que não sou o único sem ninguém pra comemorar o natal... -diria o rapaz seguindo com um longo suspiro e então abrindo um pequeno sorriso.
-Talvez isso seja mais comum do que eu imagino, certo?! -completaria conversando consigo mesmo.
O rapaz de cabelo roxo então observava tudo por ali, se sentindo cada vez mais confortável e vendo que era possível passar aquela data bem, mesmo que fosse longe de sua família. Agora se sentia um pouco mais tranquilo e em cada observação que fazia era possível enxergar em seus olhos um brilho intenso, tinha se libertado do sentimento de mais cedo e conseguia ir até um bar que encontrava aberto por ali apesar da data, onde várias pessoas conversavam, bebiam coletivamente ou solitárias, assistiam a programação da TV, davam gargalhadas e choravam, seja lá qual for o motivo, emoção ou tristeza, o importante é que por ali uma energia incrível era transmitida, independente de quem fosse que chegasse ali, o verdadeiro espírito natalino.
Após boas horas, a véspera se tornava agora o dia e então era natal, tudo aquilo ficava bem mais animado e era possível ver um grande sorriso no rosto de Ronan, aquilo não parecia apenas mais uma data que se repetia a todos anos, aquilo parecia algo novo, uma forma diferente de enxergar as coisas e era exatamente o que o rapaz precisava, agora nada seria igual e sem dúvidas seria necessário ver tudo de uma forma contrária ao que via antigamente.
Ficava fácil descobrir a felicidade exposta no rosto do garoto, ele estava totalmente mudado de quando havia saído de casa e esperava se manter dessa forma pra tudo que o lembrasse de seu passado não satisfatório, quando decidia sair dali e após inspirar e expirar profundamente, seguir até sua morada, observando tudo que houvera observado mais cedo, mas dessa vez, enxergando de uma forma mais positiva, até que pisasse no estabelecimento onde vivia, subia pra seu apartamento e olhava pra fora, podendo ver seu próprio reflexo agora cheio de espírito natalino, quando se lembrava de algo e seguiria até a sala, onde pegaria seu celular. Apesar de tudo, os Cyord's ainda eram sua família e Ronan então se colocava a digitar uma mensagem simples, que provavelmente significaria muito pra seus pais e pra ele.
"Oi pai, oi mãe.
Primeiramente queria me desculpar pelo que fiz, sei que não foi certo fugir do nada, mas eu precisava ser independente, não gostava mais de seguir uma carreira pela qual não tinha interesse e além do mais, aqui estou descobrindo coisas incríveis sobre mim mesmo, antes de embarcar senti algo que não sei nem como explicar, então posso dizer que estou indo bem.
Sinto saudades e foi difícil passar esse natal sem vocês por perto, por isso quis enviar esse email. Amo vocês, tenham um ótimo natal!
(Pai, apesar de não me interessar muito pelos negócios da família, espero que esteja tudo indo bem.)
Cyord, Ronan."
Ele não parecia incomodado com aquilo e talvez ficasse até mais aliviado com aquela ação, enviando assim o mais rápido possível e agora deixando o aparelho sobre uma estante, se dirigiria para seu quarto, onde encararia a cama por alguns segundos e ao dar um sorriso bobo, a arrumaria, se deitando e se preparando para dormir, quando olharia pro teto e se sentiria mais uma vez solitário, mas agora, tranquilo, afinal sabia lidar melhor com aquilo e poderia usar isso para até mesmo ver as coisas mais positivas.