A muito tempo Hakan não vivia em Seul, na verdade o homem viajou léguas até aquele lugar. Mas essa história é de uma noite de natal atípica. A pouco mais de um mês o garoto havia seguido em caravana com o circo de seu avô, ele estava montado em um camelo, a pleno sol escaldante. Saindo de Alexandria, eles se dirigiam para o Cairo, onde iria fazer uma apresentação.
Hakan estava entediado naquele dia, e o sol na cabeça não deixava ele pensar corretamente, afinal, fazia quase uma hora que ele tinha bebido a água que tinha no cantil, assim ele estava praticamente deitado sobre o camelo, com sede, com fome e o pior dos males, entediado. Talvez ele resmungasse, se não estivesse com a boca seca demais pra falar.
A viagem era cansativa mas eles estavam perto de seu destino, a caravana adentrava na cidade já no fim da tarde, onde o garoto pulava do camelo correndo até a primeira fonte de água, ele levava grandes porções pra boca com um desespero incomum para o tempo de talvez uma hora sem agua no maximo. Ele finalmente satisfeito soltava alguns barulhos que demonstravam alívio, respirando mais alegre.
A cidade era bonita, ele podia ver barracas, vendedores por todos os lados, ele estava feliz de certo modo, apesar de que para ele e para a cidade dia 25 de Dezembro não diziam muito, já que naquele lugar eles comemoravam o Natal por volta de 7 de janeiro. Então na verdade, era nada mais que uma noite comum.
Mas era noite de show, o circo era armado pela cidade e o rapaz vestia suas roupas de trapezista, e naquele lugar, as maiores manobras eram realizadas por o rapaz e seus companheiros. Saltos piruetas, trapézio, corda bamba, nada parecia abalar o garoto. Exceto é claro seu espírito um tanto quanto… Complicado…
Ele estava estranhamente empolgado naquela noite, duas ou três vezes mais, ele dava 4 ou 5 piruetas extras ao pular de uma área para outra. Pulava de um pé só na corda bamba, e brincava com a propria vida como se fosse nada, confiança? Não exatamente… Gadisse… Ele havia visto o belo rosto na plateia.
Era uma garota bonita, de olhos castanhos escuros, seios fartos, quadris largos, talvez esbanjando uma certa timidez. Era o tipo completo de Hakan… Ou pensando melhor ele tem um tipo? Bem talvez quase qualquer garota seja o tipo do rapaz. Mas não vem ao caso, ela o atraía e isso o fazia se mostrar, exibir-se como um bobo da corte.
Para ele pouco importava se aquele lugar ia explodir, ou o que ia acontecer, desde que ele conseguisse o que estava buscando, impressionar… E assim que a apresentação terminava. Ele descia ao palco fazia os agradecimentos e caminhava para fora do lugar. Seus passos o levavam até a plateia onde ele sentava ao lado da garota solitária, seu olhar era brando e carregava um sorriso confiante. Deliberadamente então o jovem capacitado (Ou não) para uma conversa puxava assunto com a garota. -
Boa noite… Está gostando do espetáculo?- Falava ele com uma voz branda.
A garota o olhava com uma face de estranheza inicial, seu olhar tinha um traço forte de timidez, mas sua fala era eloquente. A jovem se apresentava para ele coisa que talvez ele devesse ter feito primeiro.-
É… Olá… Boa noite. Me chamo Davila, posso saber com quem falo?- a sua voz era firme apesar de tudo, e a maneira que ela falava no final tinha certo tom de deboche, pelo fato de o rapaz sequer se apresentar, era quase uma pequena repreensão.
Hakan olhando pra ela e tendo uma pequena queda no astral após aquele começo um tanto complicado, ele respirava profundamente, e tentava ser mais natural, ele tinha notado que talvez seu exibicionismo não tivesse levado a nada... Naaaaaaãaao tamo falando do Hakan… Ele não aprende...-
Eu? Eu me chamo Hakan, Sou trapezista, aquele rapaz fazendo várias piruetas até a pouco. Aliás aquilo é só uma pequena parcela do show devia ver nas noites especiais, a platéia pega fogo.- seu olhar mostrava uma empolgação genuína ao falar do espetáculo, seus olhos estavam em chamas, seus lábios não paravam de demonstrar leves sorriso, até mesmo as micro expressões de felicidade constantes durante o momento.
A jovem Davila que não era boba, tinha percebido o jogo do rapaz, até mesmo o porquê de ele estar ali, mas companhia não era algo ruim naquele ponto da noite ainda mais por que para Davila, era natal, a garota não era dali, apenas estava naquele lugar por algum motivo, ela então dava apenas um sorriso de canto de boca e começava a responder ele. -
É um prazer Hakan, mas eu sei o que é um trapezista haha não precisa me explicar. Mas é foi um bom número, não vi nada demais nele, mas foi na média.- Na verdade ela nunca tinha visto nada como aquilo, tinha ido em outros circos, mas nunca um número pretensioso e agressivo como aquele. Mas era parte da diversão dela não deixar o rapaz crescer muito o ego além do que já era.
Hakan estava abismado, de fato ele não esperava alguém com essa personalidade, talvez nem mesmo com essa eloquência, aquele era um caso comum que poderíamos chamar de “As aparências enganam” o rapaz por alguns segundos quase caia na lacuna do silêncio mas observando as vestimentas ele encontrava sua resposta. -
Interessante, você por acaso é estrangeira? Digo, pelas suas roupas e sotaque, pareceu um pouco, não tive certeza de primeira, mas pensando agora você deve vir de longe estou certo?- dizia agora retomando mais a confiança, ele só precisava ter um pouco de jogo de cintura e tudo daria certo, ou ele acreditava que sim.
A garota já esperava no entanto que essa pergunta chegasse eventualmente pra ela, e dessa maneira já tinha na ponta da língua. -
Eu sou francesa. Eu estou aqui na cidade por conta dos meus pais, eles vieram aqui a negócios e me trouxeram. Eu não queria vir pois queria aproveitar o natal na frança, mas no fim me convenceram, e como eu estava sendo como diriam eles um “Pé no saco” me pagaram uma entrada para o circo e foram jantar por aí.- Sua voz parecia um pouco aborrecida, não com a pergunta que lhe fora feita, mas com o fato de não estar aproveitando o natal da maneira que deveria. Pra ela era uma data importante, uma coisa que deveria ser aproveitada com a família, talvez por ter boas memórias da infância.
Ela não sabia disso mas tinha despertado a curiosidade do garoto, sobre como aquelas festividades aconteciam, ele por um momento silenciava-se pois não queria atrapalhar o resto do espetáculo, ainda mais que agora vinham os engolidores de fogo e espadas. Seu número favorito. Assim a conversa entre os dois cessava por ali até o fim do espetáculo.
Ao término ele partia junto da moça, a seguindo pela rua recomeçando a conversa, ela não o esperava o que o fazia correr pra acompanhar ela antes que a perdesse na multidão se dispersando. -
Espera Davila, eu queria que me falasse mais, como é o natal de onde você vem? Eu te ouvi comentar e bem, fiquei curioso, na verdade eu não sabia que lá era hoje, aqui é comemorado no dia 7 de Janeiro e eu não saí pra muito longe de casa ainda.- ele respirava ofegante depois de alcançar ela falando isso e caminhava agora mais lento ao seu lado tomando cuidado para não se perderem um do outro.
Ela então ficava animada, contar sobre aquilo talvez fosse algo que a fizesse se distrair por mais algum tempo. Ela então caminhava com ele até um banco afastado e sentava junto dele começando a falar.-
Hoje, a cidade estaria toda enfeitada, luzes brilhantes, músicas temáticas tocando por às lojas. As casas estariam todas enfeitadas, as vezes nessa época do ano neva lá. E quando eu saí já estava frio e os flocos de neve tinham começado a cair, então de certo a paisagem seria branca. Mas o melhor de tudo é o que faria com meus pais. Geralmente tomamos chocolate quente e trocamos presentes embaixo da árvore, conversamos, e colocamos a conversa em dias. Mas bem… Faz tempo que não fazemos isso, sempre estão viajando a negocios então os vejo pouco.- a garota falava ininterruptamente por alguns minutos, sempre falando e falando, tanto que Hakan sequer sabia como ela não perdia o ar falando por tanto tempo. Já que suas pausas pra respirar eram quase imperceptíveis.
Ele ouvia ela com um olhar atento onde demonstrava um ávido interesse na história dela, ele planejava sair em breve do país e talvez saber mais de outros lugares fosse algo válido. A troca de experiências muito encantava e por isso, sem demora ele falava sobre o que tinha acabado de ouvir.-
Owo, já li muito sobre a frança, e sobre países em geral, tenho lido muitos livros geográficos, para me situar melhor já que vou deixar o lugar logo mais, mas sempre é diferente ouvir diretamente das pessoas.- Dizia com um olhar ainda impressionado, e seu tom de voz era de empolgação.
Mas a garota parecia apesar de ter se distraído novamente ter uma certa tristeza, talvez uma que fosse por lembrar tanto mas se continha e apenas questionava a ele o básico.-
Mas por que deseja deixar sua terra? Você cresceu aqui não é? Está em casa.- a jovem que tanto viajava, que nunca parava, era inocente fronte ao desejo de alguém de conhecer o mundo.
Hakan coçava o queixo e de certo modo ele não queria que aquilo rumasse para um destino triste, mas o inevitável fim daquilo talvez fosse esse. Seu olhar empolgado se transformava em um misto de preocupação e seriedade. -
Bem, na verdade eu venho de Alexandria, eu acabo passeando em cidades próximas, com o circo. E eventualmente vamos para lugares mais distantes.. A questão não é essa no entanto, eu desejo encontrar meus pais. Eles desapareceram em uma expedição e seus corpos não estavam dentre os que foram achados… - ele então respirava profundamente com um certo ar de incômodo.
Mas voltava a contar sobre o que tinha acontecido. -
Não apenas eles, mas apenas os corpos dos guardas realmente estavam entre o que foi achado, os membros comuns da caravana sumiram, o que parece um tipo de rapto. Eu quero encontrar eles e tenho leves pistas. Eu na verdade ando com meu avô por eles terem desaparecido, apenas calhou de eu aprender muito rápido acrobacias.- ele dava uma leve risadinha disfarçando o quão delicado esse assunto ainda era pra ele, não era que ele tivesse a esperança de talvez achar eles vivos, apenas queria ver o rosto deles mais uma vez independente de como.
A noite a partir dali fluiu entre os dois, papos sobre muitas cosias bobas, até mesmo conversas cabeças, talvez aquele fosse o primeiro natal de Hakan, eles aproveitaram bem o resto daquele momento, com tudo que uma noite naquele luga tinha pra oferecer. O que aconteceu além daqui bem… É história… Mas o garoto conheceu coisas novas, aprendeu muito sobre um pouco de tudo… Especialmente sobre mulheres. Mas talvez aquilo que tenha o feito desejar tanto ver outros mundos.