I - Be Prepared!

 


— Pode contar comigo - respondia Zedong. Na verdade, até meus ossos continuavam a doer. "Estou ferrado" - pensei. Se ele fosse exigir mais de mim, não sobraria nada! Felizmente Lili desviava a minha atenção, entregando-me um papel — Ótimo! - exclamava, pegando-o e olhando seu conteúdo — Passarei lá nessa hora - comentava, guardando o papel dentro de minha carteira ou em um bolso.

Eu também ruborizava à pergunta de Lili — Não vejo porque não... - olhava em volta, para ver se alguém discordava; e por último, para a própria Lian-Yin — Ela me botou aqui, então... - tentava justificar, a fim de disfarçar os meus interesses.

Infelizmente, o sr. Zedong não parecia querer se juntar a nós. Não esperava diferente, para ser sincero, mas não custava tentar — Não vai ser a mesma coisa sem o senhor! Ao menos para mim, como posso comemorar sem todos os envolvidos presentes? Você me botou para dentro, assuma a responsabilidade e apareça! - exclamava, usando suas próprias palavras contra ele, mais uma vez. Também não esperava que ele respondesse, mas se ao menos aparecesse na hora, era o suficiente.

— Bem, agora devo ir, estou precisando de um banho! - me despedia, fazendo uma breve reverência a todos - e dando uma última olhadela para a senhorita Lian-Yin, abrindo um sorriso — Até lá! - dizia, me pondo a andar. "Isso é um pouco constrangedor..." - pensava. Preferia correr, mas como minha casa não ficava tão longe e estava todo dolorido, ainda cansado, uma caminhada leve não me faria mal.

Chegando em casa, alimentaria Laocoonte com dois grandes pedaços de frango — Foi um grande dia! Você até merece um a mais - falaria com ela, rindo e indo tomar banho, em seguida, só para deitar na minha cama, limpo e com o despertador para as 18h30 do dia seguinte, garantindo que o celular estivesse carregado para não ter complicações. Se acordasse antes, ótimo, senão, ao menos não me atrasaria! Mas eu tinha quase certeza que dormiria por longas e longas horas.

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Entreabria os olhos novamente, rolando na cama e puxando o edredom para um pouco mais perto, mais aconchegante. Bocejava e esticava as pernas, tapeando a bancada, em busca de meu celular — Inferno... que horas são? - me indagava, mantendo os olhos semicerrados para ver o horário na tela. "Acho que já dormi demais..." - apoiava o cotovelo na cama, deixando o celular ali e passando a mão na face, tirando as ramelas. O sono havia sido bastante revigorizador! Olhava para as minhas mãos e erguia a camisa, fazendo um check up. "Wow!" - percebia que estava ótimo.

Sabia que ser um caçador era incrível, mas isso... isso era demais! Nunca havia me machucado tanto, então não sabia desse poder enorme de regeneração. "Uma dádiva, realmente..." - observava. Jogando as pernas para o lado, me sentava na cama, passando algum tempo ali ponderando sobre as minhas realizações e erguendo-me em seguida. "Hora de cuidar!" - adiantei os meus afazeres básicos, além de deixar mais um generoso pedaço de frango para Laocoonte — Estou de saída, amigo! - exclamava, trancando a sua sala e saindo de casa, com o celular no bolso, vestindo uma túnica oriental vermelha e preta que havia levado da casa de minha família. Era uma roupa leve e muito agradável para dias quentes.

"Que breu..." - pensava, ao olhar os arredores. Era sempre assim por aqui. Sabia da tal Ilha Jeju, mas se o problema havia sido lá, porque tanto estardalhaço aqui?! Fazia um breve alongamento do lado de fora, como de costume, respirando o ar puro até pegar novamente o papel que Lili havia me dado. "GPS... aqui vamos nós de novo" - colocando o endereço, segui rumo à casa da garota. "Oh, é mais perto que imaginei! - sequer precisava correr, bastava uma boa e aprazível caminhada.

Passados pouco menos de dez minutos, já me encontrava em frente à residência. "Uau" - erguia o cenho, observando o edifício. "Isso tudo é da Lili? De sua família?" - me questionava. Bem, ela era uma caçadora e já estava em sua quinta dungeon, se bem lembrava. Ter finanças para isso era normal. Ainda assim, era de ficar impressionado. "Aquele casebre onde moro nem dá conta..." - mensurava; mas era ali que podia cuidar de Laocoonte sem maiores problemas.

Na verdade, já estava bem acostumado com casas assim! Não era muito diferente na minha família, salvo por ter mais algumas dessas... Era um tipo de ambiente que já estava habituado. Dessa forma, segui até a campainha sem sentir-me acuado. Ao abrir da porta, uma beldade surgiu à minha frente. "L-Lili" - fiquei ali, encarando-a. Ela era tão linda assim?! Esta era a brutamonte que tankava aquele boss que era mais bruto e um monte de touros?! — B-boa noite! - abria um sorriso amistoso — O Han não vem?! - exclamava. O Sr. Zedong também não estava ali e acreditava que ele não viria, então... Eu estaria sozinho com Lili e Lian?! Isso era demais... me sentia como se um amigo houvesse furado um encontro e me deixado sozinho com duas das mulheres mais bonitas que já havia visto. Mas não era exatamente isso que estava acontecendo?!

Céus... sequer podia considerar isso como sorte? Mal conseguia falar com a senhorita Lian-Yin direito, quem dirá com as duas! — Se é assim, não tem problema! - claro que tinha problema! — Esqueceu de me entregar? Huh? - não entendia o que ela tinha dito  — E-ei - tentei chamá-la, mas ela já havia sumido para dentro da casa, me deixando sozinho ali — Isso é para mim?! - só não esperava que ela voltasse com um presente em mãos  — Mas não é o meu aniversário... - esticava os braços, alternando o olhar entre o presente e Lili — Você que embalou? - dava um risadinha, segurando-o em uma mão e desfazendo a fita e, após, o embrulho, de forma delicada — Isso é... - meus olhos brilharam. Era um a katana! Mais que isso, uma boa katana, embuída em mana. Podia sentir o quanto ela era especial só de olhá-la! — Não sei como agradecer... muito obrigado, de verdade - traria a arma para próximo ao corpo, gesticulando em agradecimento à garota.

Sentia-me um pouco incomodado de andar com uma katana por aí para ir comer. E ainda havia os livros que tinha que pegar...  Sobr- - começava a falar, me interrompendo ao ver Lian surgir atrás de Lili. Era realmente a senhorita Lian-Yin?! Ela parecia tão mais... tão mais atraente? Fiquei quieto por um momento, observando-a, como se fosse paralisado por aqueles olhos de jade. Vê-la vestida tão casualmente assim era até estranho, mas ela realmente ficava... — L-linda - falei. O quê?! — A katana! É realmente uma arma linda...! - tentei dissimular a situação, virando o olhar para arma, ruborizado — Sobre os livros de geografia... deixamos para depois? Minha casa é logo ali, demoraria alguns segundos se fosse correndo... ah, pizza? Sim, sem problemas! Eu gosto! Já até tentei fazer uma vez, mas não levo jeito... Vocês conhecem um bom lugar? - tentava desviar a atenção do assunto e me enrolava completamente.

Destarte, acompanharia Lili e Lian até o restaurante indicado. Como iriamos? A pé? De carro? Lian estaria ao meu lado? Eu estaria no meio?! Só de pensar nessas coisas, meu coração palpitava! "Han, Zedong... eu mato vocês..." - praguejava mentalmente. Dependendo da resposta de Lili, poderia deixar a katana e os livros emprestados em minha casa antes, voltando rapidamente ao local. Só esperava que elas não tivessem a brilhante ideia de conhecer onde moro...

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Após todos aquele embaraço, não queria atrair mais um para mim! — Isso facilita as coisas - estenderia a katana de volta — Cuidem bem da... - qual seria o nome da arma? Uma arma especial merecia um nome especial? Hebi? Não, era muito simples... o que podia fazer menção a serpentes e ao fogo que ela emanaria? Contorci o rosto, tentando encontrar um nome. Sim, havia pensado em um! — Basilisk! - era um monstro mitológico que, apesar da diferença de representações, em algumas delas era tido como uma espécie de monstro gigante, parecido com uma cobra, que podia soltar fogo. Este seria o nome de minha nova katana! Que forma melhor de demonstrar que havia amado o presente que mostrar o meu apreço por ele?!

— Senhor Akira? Eu pareço um velho?! Senhor Zedong é compreensível, mas pode me chamar só de Akira - dizia, olhando de forma suspeita para trás e para os lados assim que mencionei o Sr. Zedong — Uff - soltaria um suspiro, brincando. Bem, parte de mim estava brincando, mas outra se tremeria se ele aparecesse atrás de mim neste momento — Sim, sem trabalho, apenas pizza e besteiras! Se eu pensar no que aconteceu lá dentro enquanto eu como, vou acabar passando mal - lembrava de ficar coberto de merda e do cheiro pútrido daquele pântano. Ao falar, olhei para Lili, relembrando daqueles maus momentos e dando uma risadinha.

Ao mencionar do restaurante, Lian parecia bastante feliz com a escolha, não a toa o seu semblante mudava. "Esse lugar é tão bom assim?" - me indagava. Logo descobriria, pois o carro havia chegado. Com Lili no banco da frente, restava-me o banco de trás com Lian. Obviamente que ficaríamos cada um de lado, não tínhamos intimidade para ficar lado a lado assim... "Se ao menos o Han estivesse aqui... mais um motivo para matá-lo!" - praguejava.

Os primeiros segundos ao entrar no carro foram os mais torturantes. Deveria falar algo? Esperar elas falarem? O motorista conversaria conosco e quebraria o gelo? Seriam ruim se falasse demais? Não sabia o que fazer! "Céus... enfrentar o boss foi mais fácil!" - estava nervoso e meu coração vacilava. Se eu olhasse para a frente, ficaria parecendo que estava apreciando as costas de Lili! Se eu olhasse para o lado, pareceria que estava olhando demais para Lian! E se olhasse para a janela, estaria as ignorando! E se ficasse olhando para minhas pernas, eu seria um esquisitão! Havia saída?!

"Apenas seja sincero e direto com as mulheres, elas saberão de uma forma ou de outra" - lembrava de um conselho perdido da minha mãe. "Urrf" - tentava me acalmar. Não custava tentar... — Fiquei contente quando a Lili perguntou se você podia vir - ousaria, morrendo por dentro, virando meu rosto para ela ao falar. "O que você está fazendo?!" - havia falado quase ao mesmo tempo que Lian e acabei olhando para ela ao mesmo tempo em que olhou para mim. Fiquei ali, com os olhos abertos, fixados, talvez piscando uma ou duas vezes ao olhar para ela, também sentindo o seu olhar. "Ela falou linda... é uma chance..." - uma vozinha ao fundo de minha cabeça parecia gritar. Era o diabo ou o anjo me aconselhando?! Não sabia, pois não havia nada sobre meus ombros! "Você vai morrer solteiro se não fizer nada" - outra vozinha surgiu ao fundo de minha mente. Só podia ser o diabo! Então a outra voz... com certeza era a do anjo! — Ela não é a única... - disse baixo, mantendo o olhar, mas não o sustentando e virando o rosto logo depois, um tanto constrangido. "O que você fez..." - já começava a me acusar.

Após aquilo, fiquei em silêncio por mais alguns instantes, até tentar quebrar novamente o gelo. Aquele silêncio era insuportável! Mais agonizante que a batida dos mil mosquitos que enfrentamos! — Mas então... vocês são mesmo daqui? Lembro que Yin é um sobrenome famoso na Coréia - observava, assim prosseguiria a conversa, perguntando coisas de cunho pessoal, que não afetassem a intimidade delas, também respondendo às suas perguntas ou às minhas próprias, após elas responderem — Lian... você estava vindo da casa de Lili mais cedo, ontem? - mesmo tendo quase certeza da resposta, ainda perguntaria — E vocês estão morando juntas? - seguiria — Ah, eu moro só, com meu animal de estimação. É uma vida tranquila, não fica distante de onde vocês moram! - comentaria — Aliás, para onde estamos indo exatamente? - após uns quinze minutos de viagem, perguntaria. Que longe!

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Lian e Lili pareciam me encurralar, mas eu não voltaria atrás com o que disse, não quando havia escolhido aquilo! — É o mínimo que posso fazer! - riria — E aquela foi a minha dungeon, não é como se houvesse feito isso alguma vez, como podem me tomar como um brutamonte das raids se nunca havia ido em uma? - me defenderia. Ao longo do caminho, eu e Lian acabávamos trocando mais alguns olhares; alguns sem querer, já outros pareciam bem intencionais.

Como todo bom solteiro, não passavam vinte minutos de conversa e eu já havia pisado na bola! Sentia pelo silêncio e expressão de Lian. A resposta e intervenção de Lili só reforçavam a nova suspeita. "Problemas familiares... ou além disso" - engoli em seco. Eu tinha os meus problemas com a família, mas nada sério que me fizesse ficar melancólico apenas com a menção deles... indo um pouco mais afundo seria possível achar o meu calcanhar de aquiles, mas nada que surgisse de uma conversa normal.

Diferente de Lian, Lili estava bem extrovertida, falando bastante, o que me dava um grande alívio — Não seria um problema, ter companhia é sempre bom! Aliás, é mais seguro! - daria uma olhadela para Lian, com um sorriso. Após ontem, não me incomodaria nem um pouco de ir até a sede da guilda com ela; nossas casas eram próximas uma da outra, que mal faria? — O que imaginariam? - perguntei inocentemente. "Um homem e uma mulher chegando juntos todo dia no trabalho..." - logo comecei a corar. Como não havia percebido a intenção de Lili?! — Ahh - deixaria escapar, envergonhado. Bem, o que estava dito estava dito...

Fazer dungeons era realmente um bom negócio! Segundo Lian, a guilda já havia me pago o valor, caindo diretamente na conta. Sem ter que esperar até o início do mês para ter dinheiro na conta e sem ter que fazer nada de burocrático! A Draw Axe era realmente bem organizada. "Digno de uma das maiores do país..." - ponderava — Sim, pode deixar comigo! - responderia a loira. As duas saíam antes que eu pudesse abrir a porta para elas; ou melhor, para Lian. "Uff, não sei se seria uma boa ideia, de toda forma" - ficava dúbio. Só restava eu e o motorista, o qual me surpreendia com um conselho.

A primeira coisa que fazia era erguer o cenho, franzindo a boca e mensurando suas palavras. Eram os dizeres de alguém experiente e bem vivido, podia notar pela sua aparência — Levarei em consideração, meu bom senhor - me aproximaria — Você tem um contato fixo? Se não for incômodo, gostaria de negociar um contrato em outra oportunidade. Poderia me dizer o nome do senhor? Me chamo Akira Hikoji - solicitaria, ao passo que me apresentava com cortesia. Talvez fosse os caprichos que levava de minha vida passada, mas ter um motorista particular era algo desejável e que facilitaria bastante a minha vida. E mais, ter um bom motorista particular era melhor ainda — Considere um agradecimento pelo conselho! - dobraria o valor, dando-o mais 50 Kek's de gorgeta.

"Se quer dizer algo aquelas meninas, simplesmente não pense no que pode acontecer, apenas diga, você não sabe quais serão as consequências, não tem muito o que planejam ou pensar, só seja sincero consigo mesmo e com elas" - era um bom conselho, não podia negar. O problema era que faziam apenas dois dias que nos conhecíamos. Eu realmente tinha algo tão íntimo paraa falar para elas? Sequer sabia se tinham namorados! "Cof, cof" - se a Lian-Yin tinha namorado.

As duas estavam paradas em frente à pizzaria, duas beldades que estavam me esperavam. A sorte havia sorrido assim para mim?! É claro que não, era apenas um devaneio, mas vê-las assim, tão... — Fuuu - suspirava, indo de encontro a elas — Então é aqui o famoso lugar? - buscaria pelo nome do local. Sem rodeios, entrávamos e nos sentávamos em uma mesa, oportunidade em que descobria um pouco mais sobre as tradições das garotas — Pasta de pimenta?! Não vou me mentir que já vi um sabor assim... mas claro que irei provar! - exclamava. Não podia ser ruim, podia? — Quantas iremos pedir? Três? - indagava — Uma Coca-Cola, por favor! Alguém também irá querer ou... vocês também tomam algum tipo de bebida diferente? Se houver, estou disposto a abrir mão da Coca - perguntava, em um tom leve e descontraído, aproveitando o momento. Estava com tanta fome que poderia comer uma árvore de pimenta! — Há quanto tempo vocês vem aqui? Imagino que deva ser legal ter um lugar assim... - mais que uma tradição, elas realmente pareciam amar o restaurante; olharia em volta, apreciando o ambiente morno — Não tenho um lugar assim, mas quem sabe não me apaixone por esse? - falaria, olhando para lugar nenhum, com um sorriso sem dentes.

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Que tipo de trabalhador não queria um emprego estável e preferia viver na incerteza de ser autônomo? E mafioso? Eu parecia com um? Os questionamentos voltavam à minha cabeça. O velho havia entendido tudo errado! Bem, ele que tinha perdido a chance de ter uma vida melhor, pois com certeza garantiria isso para ele. Deixando isso de lado, havia assuntos mais importantes para tratar!

E elas ainda estavam lidando comigo se fosse fugir do desafio?! — Eu não correrei de uma pizza! - bradava, indignado — Ele fugiu da pasta de pimenta?! - dava uma gargalhada leve, com a mão na barriga — Posso parar no hospital, mas correr, não. Hoje eu - determinava. Eu aceitaria o desafio! Uma pimenta não podia queimar mais que o fogo de minha espada!

Não tardava para as garotas me contaram mais sobre as sus vivências no local e, enquanto falavam, eu podia notar uma coisa. "E por que os pais não estão mais aqui? Lian comeu aqui com ele apenas duas vezes? Antes ela havia ficado triste ao perguntar de sua casa..." - juntando os pontos, temia que ambas fossem órfãs; ou, ao menos, Lian. Olhando para ambas, senti um peso no coração. A vida era realmente dura. Será que era por isso que elas gostavam tanto daquele lugar? Por lembrá-las de memórias felizes? Mostrar a eles que cresceram?

— Pelo que vocês me contaram sobre essa pizza demoníaca, eles ao menos foram sensatos! - evitava me referir a eles no presente, com receio de pisar em ovos — Mas uma competição? Primeiro vocês querem que eu não coma, depois me chamam para competir... vocês estão subestimando a minha gula! - dava duas palmadinhas na barriga, sem notar o quão ridícula era a cena. Mas a dita pizza finalmente chegava; pelo que fora contado, o próprio inferno estava sobre nossa mesa! — O Senhor poderia trazer uma coca grande e três copos com gelo e limão, por gentileza? - pediria ao garçom, com educação.

Com as costas contra o respaldo da cadeira, olhava para as duas, alternar o olhar, até perceber a posição em que estava. Se eu havia perguntado antes, as perguntas voltariam em dobro, com as duas a me interrogar! Naquele triângulo, eu estava em uma ponta e as duas em outra. Não havia como esquivar! — Tradição? Bem... na minha família, todo herdeiro cria uma cobra... pode parecer estranho, mas é uma tradição bem antiga que nunca se perdeu, por isso parece tão arcaica. Quando um herdeiro "conquista o respeito" desta cobra e ela passa a obedecê-lo ele está apto a herdar a posição de chefe da família - contava, lento o suficiente para que pudessem absorver a informação — Sim... ela mora comigo e se chama Laocoonte, uma sucuri de uns cinco... ou seis metros - cerrava os olhos, encarando-as. Com certeza elas ficariam espantadas; então, atacaria — Dizem que ela consegue engolir uma pessoa adulta de uma vez! - contaria, com uma voz maléfica — E que de noite elas saem para agarrar o pé de quem tem contato com o seu dono! - por baixo da mesa, moveria a lanterna, agora acessa, do celular para iluminar o meu rosto, como faziam nos filmes — Não se assustem, é só uma lenda urbana... - continuaria a gracejar, rindo a beça — É interessante o suficiente para vocês?! - indagaria.

Era tempo suficiente para a bebida chegar e, quando chegasse, me serviria após as garotas, colocando um pedaço em meu prato — A primeira... todos de uma vez? - sugeria; afinal, seria injusto que alguém comesse primeiro e queimasse a língua enquanto os outros riam! Todos tinham que sofrer. E, assim, comeria!"Vamos ver se essa pasta de pimenta é tudo isso que falam!".

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